Planejamento e realização
do Mosteiro Beneditino da Trindade, em Fujimi (Japão)

D. William Skudlarek, OSB

A primeira comunidade beneditina no Japão foi fundada por Beuron em 1931, mas, por uma série de razões, entre elas a rápida evolução política da situação na Alemanha, teve de ser fechada antes do final da década. Em 1947, dois monges que haviam permanecido no Japão, convenceram a Abadia de Saint John (em Collegeville, Estados Unidos) a ajudá-los a estabelecerem uma paróquia em Meguro, Tóquio, e a enviarem monges de Collegeville para o Japão a fim de fundarem um Priorado.

Durante as primeiras décadas, o enfoque dos monges no Japão foi o ministério pastoral na Paróquia de Santo Anselmo. Dom Jerome Theisen, abade de Saint John, de 1979 a 1992, encorajou a comunidade a redescobrir sua identidade monástica. Em 1984, Saint John ajudou o Priorado a adquirir a parte de uma propriedade na cidade de Fujimi (Prefeitura de Nagano) com a perspectiva de lá estabelecer uma fundação monástica adicional, afastada dos imperativos imediatos do ministério paroquial. A propriedade media aproximadamente 100 m por 60 m de um terreno irregular. Na década seguinte, a comunidade continuaria refletindo sobre Fujimi como lugar adequado para um novo mosteiro, sobre a conveniência de se construir em um local tão pequeno e levando em conta os recursos e pessoal limitados.

Quando o sucessor de Dom Jerome Theisen, Dom Timothy Kelly (1992-2002), visitou Meguro pela primeira vez como abade, em 1993, reiterou que se estudasse o projeto de uma fundação monástica tradicional. Tendo constatado a idade avançada e o reduzido número de membros da comunidade, afirmou categoricamente que «não decidir é, de fato, decidir». A comunidade estabeleceu então um plano de discernimento de cinco anos para ver se poderia realizar tal projeto.

O plano se desenvolveu lentamente. Examinamos pelo menos três outros locais que poderiam ser melhor adaptados para a implantação de um mosteiro. Essas visitas provocaram repetidas discussões acerca de nossa missão e de nossos recursos. Em setembro de 1995, foi designada uma comissão para apresentar uma proposta específica de construção em Fujimi. 

Solicitamos a colaboração do arquiteto Kenjiro Takagaki para nos ajudar a resolver a questão da construção de um novo mosteiro. Takagaki começou por nos fazer algumas perguntas básicas: Quem são os senhores? O que é um mosteiro? O que é um monge? O que significa ser monge no Japão do século XX?    

Por meio dessas conversações, começamos a clarificar nossa visão de futuro e decidimos contratar Takagaki para projetar um novo mosteiro em Fujimi. Takagaki escreveu em seu livro Japan Architecture (1999.12): «Recebi a incumbência de levar adiante o processo de construção de novas instalações para sete monges que retornavam a seu ponto de partida original, um mosteiro contemplativo, e queriam criar uma comunidade dedicada à oração e ao trabalho dentro de um meio-ambiente natural».   

Durante os dois anos seguintes, a comunidade se reuniu com Takagaki a cada quinze dias. Nossas discussões iniciais versavam sobre o local onde deveria ser o futuro mosteiro. A comunidade desejava um espaço que lhe permitisse levar uma vida enraizada na história e na cultura beneditinas, e lhe possibilitasse receber os hóspedes como ao próprio Cristo. Discutimos também sobre como a construção se integraria na paisagem, que tipo de material seria utilizado e até mesmo onde situar o local adequado para os utensílios da cozinha.

Depois de termos trabalhado por algum tempo com Takagaki sobre o espaço monástico, percebemos que precisaríamos dar mais atenção às questões comunitárias. Pedimos ajuda a uma religiosa japonesa do Sagrado Coração que havia servido a várias comunidades como consultora e facilitadora. Essas discussões diziam respeito aos fundamentos da identidade monástica, horário, liturgia, tarefas domésticas, acompanhamento dos hóspedes, ministério pastoral, relacionamento com a diocese, etc. No decorrer dessas discussões, tomamos a decisão de estabelecer Fujimi não como um estabelecimento suplementar, mas, sim, entregar a Paróquia de Meguro à Arquidiocese de Tóquio e direcionar a energia da comunidade para o mosteiro de Fujimi.   

Inicialmente, a maioria dos americanos da comunidade exprimiu seu desejo de construir um mosteiro «com feição japonesa». Takagaki argumentou que, em um país onde menos de 1% da população autóctone é católica, seria ainda mais importante que a arquitetura expressasse uma certa «atemporalidade» e permanência, sendo ao mesmo tempo modesta em suas proporções e em harmonia com a paisagem – e assim eminentemente «japonesa».

Uma das primeiras decisões que tomamos foi com relação às dimensões do mosteiro. Recursos limitados, o pequeno número da comunidade e a previsão razoável de vocações que se poderia esperar da pequena população cristã japonesa, nos levaram a projetar uma construção para doze monges, com a possibilidade de uma posterior ampliação, se necessário.   

Discernimos também como utilizar a topografia do terreno. Takagaki apresentou um «Diagrama para as relações de espaço» e um «Estudo de classificação do solo», além de termos feito várias visitas ao local. A comunidade examinou qual seria a melhor maneira de aproveitar o posicionamento da luz solar nas diferentes estações e como resolver o problema causado pelo acúmulo das águas quando a neve se derrete. Até mesmo no lançamento da pedra fundamental examinamos de que maneira os diversos tipos de tijolos iriam refletir a luz solar.   

Para adquirir um conhecimento mais aprofundado da arquitetura monástica, Takagaki visitou a Abadia de Le Thoronet, do século XII, no sul da França, e leu Les Pierres Sauvages (As pedras selvagens), de Fernand Pouillon, obra inspirada naquela construção. Le Thoronet deu a Takagaki uma visão de como utilizar o espaço disponível na propriedade de Fujimi, visto serem os dois locais similares em extensão e terreno. Posteriormente, Takagaki fez duas visitas à Abadia de Saint John onde o impressionou tanto o «caráter atemporal» das construções, quanto o lado prático de sua concepção para a vida de uma comunidade monástica.

Takagaki e a comunidade trabalharam duro a fim de encontrarem um projeto de construção adequado. A comunidade achou pouco interessantes as propostas iniciais do arquiteto ou demasiado imponentes quanto ao tamanho e a aparência. Finalmente, surgiu um plano para duas alas separadas – hospedaria e mosteiro – que se enquadrava bem na topografia do terreno. O conjunto teria a forma de um «U» em ângulos retos com um longo corredor ligando as duas alas. A capela ficaria no centro do espaço formado pelos três lados do «U».

No momento em que nos preparamos para celebrar o décimo aniversário da Dedicação do mosteiro, que festejaremos em 2009, continuamos a descobrir novas maneiras de utilizar o edifício e seus arredores. Reconhecemos também que o atual conjunto talvez precise ser modificado e ampliado na medida em que nossa comunidade monástica continuar crescendo e se desenvolvendo. Consideramos nosso mosteiro como uma grande dádiva, para o qual contribuíram um sem número de pessoas e no qual vemos um sinal da graça de Deus operando em nosso favor.

D. William Skudlarek é monge de St. Johns’s Abbey (Collegeville)
e atual Secretário Geral do DIM.

Traduzido do inglês por Paulo Alceu Amoroso Lima.