CONSTRUIR UM MOSTEIRO...

P. Martin Neyt, OSB
Presidente da AIM

Durante a última década, surgiu pelo mundo afora uma centena de mosteiros. Cada uma dessas comunidades procurou situar-se numa localização geográfica diferente, no campo ou na cidade, na solidão ou não, num contexto sócio-econômico e cultural próprio. Nesses novos territórios deu-se início ao louvor de Deus, ao trabalho e ao aprendizado de uma vida comum fundamentados no Evangelho. Para começar, foram feitas perguntas como estas: Que fisionomia concreta dar a esse mosteiro? Como construir? Como edificar um prédio que corresponda a essa procura de Deus e esteja, simultaneamente, inserido na vida cultural de uma época? Tal é o questionamento que gostaríamos de abordar neste Boletim: procurar inserir-se no gênio do lugar e privilegiar um clima de recolhimento.

Ao lado de numerosas tentativas, o plano carolíngio se impôs desde o século IX e perdurou, de maneira hegemônica, até o século XIX. Na época barroca surgiu uma variante, dispondo a igreja no centro do conjunto monástico. Outros planos também surgiram, expressões de uma vida mais simples, despojada, convivial. Com freqüência, a evolução das construções aconteceu junto com a história da comunidade. A comunidade das monjas-oblatas de Abu-Gosh, em Israel, descreve essas etapas e lembra três princípios de «discretio» próprios da tradição beneditina: avaliar o que é necessário para o ritmo da comunidade; favorecer a reflexão de todos; saber esperar para começar! De fato, a ampliação dos edifícios geralmente acompanha o desenvolvimento da comunidade e o aumento do número de hóspedes que a freqüentam. No entanto, pode ocorrer que se faça uma construção monástica e os primeiros postulantes estejam ainda sendo esperados. Ou, muitas vezes, os candidatos chegam e os edifícios são exíguos, pelo menos durante um certo tempo...

Os pedidos endereçados à AIM envolvem todos os estilos e todas as pretensões. Uns têm visão ampla. Seus projetos são grandiosos, quando não é o próprio arquiteto que impõe seu ponto de vista e se antecipa ao futuro. Até parece que voltamos à época de Cluny. A humildade e a discrição monástica dão lugar a visões desmedidas no sentido da realidade da vida e do contexto sócio-cultural. Ocorre também que as comunidades recebam de herança um imóvel, humilde habitação ou um conjunto mais espaçoso, às vezes abandonado e que precisa ser restaurado. A primeira tarefa da comunidade é então fazer com que o lugar se torne habitável, proporcione um convívio agradável e seja orante. Pouco a pouco, a vida vai impondo mais exigências: oratório, celas, quartos de hóspedes, cozinha, oficina, lavanderia... Assim, os espaços construídos vão se ampliando de acordo com os meios financeiros e as possibilidades do terreno.

Entre esses dois extremos, há mosteiros que se inserem perfeitamente no gênio do lugar, com bom gosto, sobriedade, marcas de humanidade e do sentido de Deus. Nesse começo do terceiro milênio, muitas realizações notáveis procedem de vários continentes e podem enriquecer as reflexões acerca das escolhas a serem feitas para as novas comunidades. Estas realizações arquitetônicas contemporâneas provêm de Israel, do Japão (Fujimi), do Peru (Pachacamac), da Europa (Clerlande, Chauveroche, Einsiedeln), dos Estados Unidos (Christ-in-the-Desert). Quanto a Me. Charles, OSB, animada de um vigor inalterável, ela desenvolve, no norte de Madagascar, sua própria visão que dá aos salmos da criação toda a sua densidade visual. Outros mosteiros, também notáveis pela arquitetura, não puderam ser ilustrados neste número: El Rosal (OSB, Colômbia), Esmeraldas (OCSO, Equador), Tepeyac (OSB, México), Güigüe (OSB, Venezuela). Na África, Mundú (OSB, Chade) e Kinshasa (OSB, Congo), entre outros...

O «habitat» monástico na Etiópia, descrito pelo P. Sabino Chialà, de Bose, vem, com conhecimento de causa, nos lembrar a primitiva tradição monástica. Em celas as mais despojadas, os livros da Liturgia das Horas são de uma beleza incomparável, bem como os ícones das igrejas. A ruminação da Palavra e a Liturgia possuem livros decorados com um cuidado extremo, enquanto os próprios edifícios, exceto a igreja, são de uma sobriedade desconcertante. E os budistas do Japão vivem, eles também, num grande despojamento que interpela os discípulos daquele «que não tem onde repousar a cabeça.» O vocabulário é sintomático: não entrar no mosteiro, mas deixar a casa.

Essas reflexões que atraem outras nos convidam a penetrar ainda mais no âmago de nossa vida consagrada e a fazer de nossos lugares de vida espaços onde, a cada instante, se cante a glória de Deus.

Traduzido do francês por D. Matias Fonseca de Medeiros, OSB.