COMO NOSSO MOSTEIRO FOI CONSTRUÍDO POR ETAPAS

Comunidade das monjas-oblatas do Mosteiro de Santa Francisca Romana,
em Abu-Gosh (Israel)

Quando chegamos em 1977, éramos três monjas vindas de nosso mosteiro de oblação, no Bec-Hellouin, Normandia (França), para nos reunirmos aos três primeiros monges do mesmo mosteiro, chegados um ano antes na Terra de Israel. Não tendo lugar onde ficar, começamos por ser acolhidas como hóspedes voluntárias na comunidade das religiosas de São José da Aparição, cujo convento situado na colina de Kyriat-Yéarim domina o vilarejo árabe de Abu-Gosh, construído pelos cruzados em um dos lugares onde se evoca o episódio de Emaús. Este lugar, no qual os cruzados construíram uma igreja fortificada, foi doado à França no fim do séc. XIX. No começo do séc. XX, monges beneditinos vindos da Abadia francesa de Belloc, construíram aí um mosteiro anexo à igreja onde viveram até 1954. Ocupado a seguir pelos lazaristas até 1974, as construções e o encargo da igreja foram confiados, desde de 1976, aos beneditinos franceses da Congregação de Monte Oliveto.

Foi neste mesmo terreno que construímos, à medida que íamos crescendo, os três edifícios e uma hospedaria, que constituem atualmente nosso mosteiro.

Durante o tempo em que moramos na colina de Kyriat, de 1977 a 1979, começamos os trabalhos de restauração de um edifício em ruína, situado próximo da igreja dos cruzados, e que servira de acomodação para os monges e seus hóspedes. Sua área era pequena, mas nós éramos somente três...! Ao longo desta primeira etapa, os trabalhos consistiram no fortalecimento das paredes e na construção de um primeiro andar destinado a cinco celas e um terraço. Queremos frisar que nos encontrávamos em uma propriedade nacional francesa, ao lado de uma igreja classificada como monumento histórico, devendo respeitar ao mesmo tempo as cláusulas impostas para a obtenção da licença francesa a fim de construir e as exigidas pelo Estado de Israel, que pedem como condição para construir, a edificação de um abrigo anti-aéreo e a supervisão, durante os trabalhos, do Departamento de Arqueologia.

O térreo deste edifício foi adaptado para nossa vida monástica com uma cozinha e um refeitório contíguo, uma sala comunitária utilizada ao mesmo tempo para as reuniões e como ateliê de trabalho, uma lavanderia/rouparia e um parlatório. Os ofícios eram celebrados três vezes por dia na igreja dos cruzados com nossos irmãos, e faltava-nos um oratório para os ofícios celebrados separadamente. No jardim diante da construção que acabávamos de adaptar, havia uma espécie de cabana, um velho galinheiro que, com a ajuda dos irmãos, foi transformado em oratório com a Presença real. Para nossas reuniões de capítulo utilizávamos também este espaço minúsculo do oratório, felizes por habitar neste lugar muito simples, com Aquele que nasceu em um presépio, não longe daqui, em Belém.

A entrada nesta nova construção que se tornava nosso mosteiro aconteceu em fevereiro de 1979 com a chegada de quatro irmãs vindas do Bec. Assim vivemos até 1982. Depois veio uma quinta irmã e chegou, ao mesmo tempo, a primeira postulante. Desta vez tivemos que nos render à evidência de que uma ampliação se tornava urgente.

Refletindo sobre o que nos parecia ser necessário, concluímos que precisávamos de um refeitório e de uma cozinha maiores, de novas celas e de um oratório. Decidido isto entre nós, chamamos um arquiteto, do qual não tivéramos necessidade durante a primeira construção por ser um trabalho de reparos. Começamos logo a organizar diversos projetos para captação de fundos, dirigidos a vários organismos que nos foram indicados, porque não tínhamos recurso algum para financiar estas construções. Além do mais, o custo da obra era muito elevado em Israel.

Esta segunda construção começou no outono de 1982 e prolongou-se por nove meses. Ao mesmo tempo em que a construção prosseguia, ela mesma era uma construção interior de nossa comunidade; cada fase da construção era seguida atentamente por cada uma das irmãs, e repercutia em cada uma de nós. Não se participa somente como espectador na construção de uma casa de oração, ela é vivida também no interior de si mesmo. Crescia também um conhecimento progressivo dos habitantes desta Terra Santa, pois nossos arquitetos eram israelenses, nossos empreiteiros árabes cristãos e a maioria dos operários que eles empregavam eram árabes muçulmanos, o que nos introduziu na complexidade das relações, das culturas e das línguas.

Quando, nove meses mais tarde, pudemos ocupar esse novo edifício e aí acolher duas novas postulantes, transformamos diversas salas de nosso primeiro andar em lugares de acolhimento, que antes nos faziam grande falta, e deles sentíamos uma forte necessidade, conforme toda a tradição monástica e beneditina.

Os organismos que tinham assegurado o financiamento desses trabalhos enviaram seus inspetores para constatar o emprego correto dos valores que lhes foram pedidos.

Continuamos nossa vida sem imaginar absolutamente que a necessidade de uma nova ampliação se faria sentir. Ora, tivemos mais uma vez que nos render à evidência de que, se a comunidade continuasse a crescer, os espaços se tornariam por demais pequenos. Além disso, os lugares oferecidos aos hóspedes os introduziam demais na vida da comunidade sem nos permitir a privacidade necessária. Era preciso pensar em uma hospedaria mais separada dos lugares reservados à própria comunidade.

Assim, nasceu o projeto de um terceiro edifício, para cuja concepção conversamos entre nós, como já havíamos feito com os outros dois edifícios, refletindo sobre as necessidades reais da comunidade. Cada irmã foi convidada a dar sugestões e a expressar o que ela percebia como necessário para a comunidade. Prioritariamente, precisávamos de uma hospedaria separada dos edifícios da comunidade, de celas novas, de um ateliê de trabalho e de uma enfermaria. Uma vez tomada a decisão de abrir um novo canteiro de obras, começamos as providências administrativas e a captação de recursos. A estas providências se uniram a deterioração da situação política entre Israel e os territórios da Autonomia Palestina. O país enfrentou vários anos de «intifada», de luta armada, de atentados e de represálias e outros tantos episódios que, além de sua gravidade para as populações, não fizeram mais que entravar o bom andamento de nosso projeto. A maior parte dos operários palestinos que trabalhavam em nossa construção eram de Belém e tinham grandes dificuldades para conseguir licença de trabalhar em Israel; e, como cada atentado era seguido de um fechamento mais ou menos prolongados dos territórios ocupados, os trabalhos ficavam parados por várias semanas.

Sob o aspecto financeiro, havíamos recebido com bastante rapidez uma soma que nos permitia cobrir as despesas para a construção da hospedaria. Começamos assim por esta parte, dizendo a nós mesmas que se pudéssemos construir apenas isso, seriam então as irmãs que a ocupariam, caso houvessem pedidos para entrar na comunidade.

A construção começou em 1991 e só terminou realmente em 1995, devido a todas as razões acima mencionadas.

Muitos anos mais tarde, entre 2005 e 2006, à vista da expansão de nosso trabalho artesanal com velas, tivemos que pensar em um ateliê mais amplo e mais saudável. Trabalhávamos, na verdade, em um espaço exíguo, sem nenhuma garantia de segurança, e nosso trabalho era prejudicado devido à falta de espaço. Foi este o quarto canteiro de obras: a construção de um edifício térreo, onde o espaço maior foi destinado ao nosso artesanato de velas e um outro, menor, para o ateliê de iconografia e a confecção de cartões-postais.  

Se quiséssemos ressaltar as linhas essenciais do que aprendemos ao longo destes anos, com a construção progressiva de nosso mosteiro, sublinharíamos :

−    O ritmo de vida da comunidade tal como Deus a faz crescer: dito de outro modo, avaliar o que é necessário.

−    Favorecer ao máximo a participação de todos os membros da comunidade para uma busca em comum daquilo que a comunidade necessita.

−    Saber esperar para começar tendo a garantia de um mínimo de possibilidade para cobrir as despesas.

Hoje, é com ação de graças que habitamos estes lugares que, pela sua edificação, contribuíram para a construção interior de nossa comunidade, e que sustentam a nossa vida de cada dia. É com ação de graças que fazemos memória de todos aqueles e aquelas que nos ajudaram e nos sustentaram, e nos confiamos à intercessão de todos os nossos irmãos e irmãs, monges e monjas, a fim de que eles nos apóiem com suas orações para permanecermos fiéis ao chamado recebido.

Nota: O Mosteiro de Santa Francisca Romana, em Abu-Gosh, é uma comunidade de monjas-oblatas beneditinas beneficiando de um estatuto especial na Congregação de Monte Oliveto: a oblação monástica das monjas passa pela mediação da Abadia de Santa Maria da Ressurreição, também em Abu-Gosh, mosteiro de monges da mesma Congregação, da qual elas são oblatas. As duas comunidades, embora vivendo em mosteiros separados, celebram diariamente a Eucaristia e alguns Ofícios em conjunto, sob a paternidade espiritual do Abade, mas mantendo cada uma sua autonomia e gestão próprias. 


Traduzido do francês pelas monjas do Mosteiro da Santíssima Trindade, Santa Cruz do Sul, RS.