EDITORIAL

Dom Jean-Pierre Longeat, OSB

 


LongeatO ano de 2014 foi marcado, no plano monástico, por dois grandes eventos: o Simpósio da Communio Internationalis Benedictinarum (Comunhão Internacional das Beneditinas – CIB) e o Capítulo Geral da Ordem dos Cistercienses da Estrita Observância (Ordem Trapista – OCSO). Neste número do Boletim faremos uma exposição ampla desses dois encontros.

O primeiro deles focalizou sua reflexão na escuta do coração, na maneira como ela é compreendida pela Regra de São Bento e toda a tradição monástica. Trata-se, efetivamente, de um tema importante para o nosso tempo. As comunidades monásticas e as comunidades cristãs em geral deveriam dar-lhe mais importância na vida cotidiana. Sem uma escuta profunda não há enraizamento possível nem crescimento sadio. Quando Cristo diz: Onde estiver o teu tesouro, aí estará também o teu coração (Mt 6,21), ou ainda quando a tradição ensina que toda a prática espiritual consiste em fazer passar do intelecto para o coração a percepção de todas as coisas, podemos compreender que existe nisso um importante caminho de despojamento e de renascimento. Seguir o caminho pascal, morrer para as próprias ilusões, é encontrar a presença de Deus no mais íntimo, ele que, por meio de Cristo, vem até nós para, em nós, fazer sua morada. É a partir dessa escuta que se podem desenvolver harmoniosamente todos os potenciais humanos do desejo, do sentimento ou da razão. Nós escolhemos enfatizar o desenvolvimento bíblico (Novo Testamento) relativo a esse tema da escuta, como um dado importante da dimensão messiânica do Reino de Deus, através da pessoa de Jesus e de seus discípulos.

Entretanto, nem sempre é fácil, em comunidade, ser coerente com essa realidade. Vejamos o que diz a Regra ao recomendar que nos conformemos aos exemplos dos mais velhos (cf. RB 7,55) enquanto, instintivamente, queremos nos auto-afirmar. Assim também, como escutar um superior quando diz algo que ele mesmo não pratica? Esses dois aspectos são abordados por Madre Hannah Van Quakebeke, de Loppem, e Madre Andrea Savage, de Stanbrook, com toda a experiência que possuem como superioras de suas respectivas comunidades.

Quanto ao Capítulo Geral da Ordem Trapista, publicamos a interessante intervenção do Abade Geral, Dom Eamon Fitzgerald, acerca dos diferentes aspectos da fragilidade de nossas estruturas monásticas, bem como a contribuição do Abade geral da Ordem Cisterciense, Dom Mauro-Giuseppe Lepori, sobre a vida comunitária em nossos mosteiros.

A exposição dos Padres salesianos, Franco Lever e Fabio Pasqualetti, propôs aos membros do referido Capítulo Geral pistas extremamente lúcidas sobre a maneira como é possível fazer funcionarem juntas vida monástica e utilização da internet. Publicamos aqui uma parte da intervenção de ambos na rubrica «Abertura para o mundo».

Nesses dois encontros, a vida monástica deu mostras de estar conectada com as realidades da vida de nosso tempo. Escuta do coração, vulnerabilidade das instituições e das pessoas, abertura para os novos meios de comunicação: realidades que nos interpelam, juntamente com nossos contemporâneos, sobre a maneira exata de assumir o que é próprio de nossa vida e corresponder à nossa vocação.

 

Dom Jean-Pierre Longeat, OSB,
é Abade emérito da Abadia de Saint-Martin de Ligugé (França)
e Presidente da AIM

Traduzido do francês por Dom Matias Fonseca de Medeiros, OSB