O Mosteiro da Água Viva
Em agosto de 2011, o Mosteiro da Água Viva teve a alegria de acolher pela primeira vez o Padre Martin Neyt, Presidente da AIM. Foi uma visita muito encorajadora para nós que vivemos no Amazonas, tão isoladas de tudo. Ele mostrou um grande interesse por tudo o que vivemos aqui e nos pediu um pequeno artigo para o Boletim de AIM.
Eis um pouco de nossa história:
Em 1987, o Mosteiro do Encontro de Curitiba, no sul do Brasil, recebeu de três bispos de locais diferentes, pedidos para uma fundação monástica em suas dioceses. Depois de um longo discernimento, a comunidade decidiu responder ao pedido de Dom Jorge Marskell, bispo da Prelazia de Itacoatiara, no Amazonas, que veio pessoalmente bater à nossa porta. Dom Jorge desejava para sua igreja local uma presença de oração e acolhimento. Admitia nada conhecer sobre a vida monástica, mas acreditava de todo o coração que a presença do mosteiro seria uma luz para todas as comunidades de sua imensa Prelazia.
Foram feitas várias viagens de prospecção, de duas a duas, para conhecer a região e, sobretudo, para discernir se o que esperavam do mosteiro seria compatível com nossa identidade, pois tínhamos percebido que as necessidades seriam imensas. E finalmente, Madre Chantal, então Prioresa do Mosteiro do Encontro, fundação do Mosteiro Nossa Senhora de Betânia, em Loppem (Bélgica), e a comunidade responderam um generoso SIM, dando de sua pobreza. Era preciso muita coragem para fazer esses 4.000 Km que separam o mosteiro do Sul deste fundado no Norte. No início, fazíamos o trajeto Curitiba-Brasília em ônibus (22h), depois o vôo noturno até Manaus, e ainda 4h de carro para chegar à Itacoatiara. E sempre bem carregadas de grandes bagagens com todo tipo de legumes e outros alimentos, pois no início tudo faltava na pequena cidade.
Nos esperava o desconhecido, com o grande calor equatorial e a exuberante vida da floresta, verdadeira sinfonia de pássaros e todo tipo de animais pequenos e grandes, e todo um mundo e toda uma cultura tão diferentes. Mas nada venceu o entusiasmo e o ardor das monjas.
Para a construção do mosteiro, pudemos contar com a ajuda preciosa e competente do Padre José Maria Fumagalli, do Instituto da Consolata, verdadeiro missionário e monge de coração. Ele coordenava a construção, trabalhando ele mesmo em todos os domínios. O mosteiro se situa a 10 km da cidade e se tornou um ponto de referência para os vizinhos.
As fundadoras chegaram para os 25 anos da Prelazia, e o Mosteiro da Água Viva começou sua vida regular no dia 7 de outubro de 1989. Um mosteiro beneditino onde as monjas vivem para escutar a Palavra de Deus, partilhá-la e pô-la em prática. Para ser uma comunidade de oração e de acolhimento. Uma comunidade a serviço daqueles que sentem necessidade de um espaço de silêncio para encontrar-se com Deus ou a escuta de uma irmã. Uma comunidade também a serviço dos diferentes grupos da Prelazia que querem descobrir ou aprofundar as motivações evangélicas de seus trabalhos pastorais, segundo o desejo e pedido do Bispo.
A primeira vocação local não tardou, e esta primeira amazonense aceitou corajosamente fazer sua formação monástica no nosso mosteiro fundador. Irmã Eliete, agora monja, se encarrega da catequese no mosteiro, de um grupo de crianças da vizinhança, ou de adultos que desejam receber o batismo ou mesmo o casamento na igreja.
Em comunidade somos seis. Após 22 anos de fundação, o mosteiro se enraíza com as vocações amazonenses. A audácia de viver a vida monástica nesta região se mantém. Somos o primeiro mosteiro no Estado do Amazonas. Cabe a nós transmitir a vida monástica, ou mesmo a vida cristã, pois estamos numa região de missão. Desejamos ser um «sinal da presença de Deus» no meio dessa gente sedenta de sua Palavra.
O trabalho para a subsistência do mosteiro permanece um desafio, pois a região é pobre. No momento fabricamos hóstias, terços de sementes de açaí (fruto típico da região) e alfaias de altar. O acolhimento às vezes é rentável, mas nem sempre há hóspedes. Nós procuramos ainda um trabalho com que possamos ganhar nossa vida de uma forma mais estável.
A comunidade é ainda pequena. Por causa de nosso isolamento, é preciso enviar nossas jovens irmãs ao nosso mosteiro fundador para complementar sua formação. E é graças à preciosa ajuda de nossos benfeitores que nossas irmãs podem completar seus estudos. Neste momento, nossa Irmã Maria Gabriela segue o «Curso de Formação Monástica» na Casa Generalícia dos Cistercienses, em Roma. Irmã Jacinta e Irmã Myriam seguem os cursos que organizados pela CRB para as Contemplativas ou as sessões organizadas pela CIMBRA.
Nós continuamos com nosso sonho de poder convidar pessoas que, através de cursos ou sessões, possam nos ajudar na formação permanente, pois, por enquanto, só contamos com nós mesmas e nossa pequena biblioteca.
A vida continua, e com o passar do tempo, com nosso clima inclemente e os cupins, as construções exigem renovações. Nossa comunidade cresceu com a presença de Irmã Elisabeth, do Mosteiro do Encontro. Sua presença de «irmã mais velha» nos ajudará em nossa vida fraterna, e sua competência estará a serviço da manutenção das construções. Temos também o projeto de aumentar nossa pequena capela e também a hospedaria em vista dos grupos que acolhemos.
Tudo isto nós o vivemos na fé e na «esperança que não decepciona».
E no grande desejo de continuar levando em frente a flama da vida monástica, permanecemos aqui uma pequena FONTE DE ÁGUA VIVA para aqueles que têm sede de Deus e de seu Reino.