A serviço dos formadores monásticos
Dom Mark Butlin, OSB
Prezados Dom Abade Eamon
e todos os meus irmãos e irmãs da Família Trapista,
Para mim é um verdadeiro prazer ser convidado pelos senhores, pela terceira vez consecutiva, para apresentar ao Capítulo Geral um informe sobre o Programa de Formação para Formadores Monásticos.
Este é o décimo ano desde a abertura da Primeira Sessão do Programa em 2002. Desde então, houve oito sessões anuais, não tendo havido sessão em dois anos dado não ter havido número suficiente de inscrições.
No total, duzentos e vinte e dois membros da grande Família Beneditina participaram, reunindo Trapistas, Cistercienses da Comum Observância e Beneditinos vindos de quarenta países diferentes.
A presença trapista no Programa, ao longo destes dez anos, chegou a sessenta participantes de vinte nacionalidades, dos quais quarenta monges e vinte monjas.
Minha experiência e de Padre Brendan Thomas no trabalho conjunto para preparar o Programa desde o ano 2000 e, a partir de então, dirigi-lo tem sido extremamente rica. Pudemos perceber como esse curso de treze semanas com sua abordagem sapiencial evoluiu ao longo das oito sessões, posto que, ao longo dos anos, temos buscado responder às necessidades dos participantes. Sua ênfase tripartite nos aspectos acadêmico, pedagógico e pastoral provou ser o melhor caminho para atender aos monges, monjas e irmãs que têm participado do Programa. Eles estão à procura de ajuda prática para desempenhar seu ministério de formadores dentro de suas comunidades. Com a ajuda de uma equipe de cerca de dezessete membros, tanto homens quanto mulheres, reunida de numerosos países de diferentes continentes, fomos capazes de ministrar um curso largamente embasado e focado em nossa tradição monástica.
Gostaria de chamar a atenção dos senhores para aquilo que vimos e aprendemos no trabalho com homens e mulheres de diferentes culturas e de um largo espectro de referenciais tanto pessoais quanto monásticos e intelectuais. A necessidade básica de todos, dos participantes mais jovens, nos seus trinta e poucos anos, aos participantes mais idosos, nos seus setenta e tantos anos, reside na busca de um fundamento sólido para uma visão unificadora de nossa vocação monástica, nascida do chamado contínuo de Cristo através do Evangelho. Isto nos foi desvelado quando a Mestra de Junioristas [1] das Clarissas do Mosteiro de Santa Clara aqui de Assis encontrou nosso grupo.
Ela salientou que tendemos a apresentar nossa vida monástica de modo fragmentado, enfocando elementos individuais tais como a liturgia, a oração pessoal, a vida comunitária, o trabalho e o silêncio. O perigo é fracassarmos na reunião das partes, mostrando que elas só ganham coesão em um relacionamento crescente com Jesus Cristo a cujo amor nada antepomos. Usando estas palavras da Regra, Bento XVI enfatizou fortemente que a vida religiosa encontra seu ponto essencial de referência na vida monástica como o modo exemplar de viver nossa vocação batismal em Cristo.
Pessoalmente, a partir do que aprendi nos vinte e sete anos de trabalho da AIM no campo da formação na África e na Ásia, tem-se tornado cada dia mais claro que o ponto de início de qualquer jornada monástica autêntica deve ser a conscientização verdadeira da identidade cristã de cada um. Isto significa que todos temos que começar pela evangelização pessoal, levando a um encontro com Cristo e a um real comprometimento com Ele. Este ponto foi gravemente enfatizado por um recém ordenado bispo siro-malabar [2] na reunião anual de quarenta comunidades beneditinas da Índia e Sri Lanka três anos atrás. Evangelização profunda é mais necessária aos recém-chegados que catequese.
Um dos aspectos mais poderosos de nosso Programa de Formadores, na visão de nossos participantes, é a experiência de formar uma nova comunidade cristã durante o curso de três meses do qual estão participando. Partilhar a fé, oração e a vida diária em uma atmosfera de aprendizado e diálogo constantes cria um profundo laço de comunhão. No nível pessoal, vários participantes falaram de uma conversão real e de terem percorrido um segundo noviciado, levando a um novo sentido de comprometimento com suas vocações monásticas. Frequentemente os participantes aumentam significantemente sua confiança, levando a um desejo genuíno de comunicar na formação o que eles têm descoberto e aprendido.
Talvez, possa-se sumarizar melhor reconhecendo toda a vida monástica como uma formação, um progresso na fé e na conversatio morum, mediante os quais seguimos a Cristo rumo à glória.
Para concluir, apresento aos senhores as afetuosas saudações do Padre Brendan, especialmente para aqueles seus conhecidos e, juntos, desejemos expressar nossa gratidão a todos os indivíduos e comunidades que nos têm apoiado tão generosamente em nosso trabalho. Devemos um agradecimento particular à Ordem pela ajuda financeira que ela tem dado e sem a qual não poderíamos ter fornecido muitas bolsas de estudo, especialmente aos mosteiros mais pobres.
Dom Mark Butlin, OSB, é monge da Abadia de Saint Lawrence, de Ampleforth, em York (Inglaterra), e membro da Equipe Internacional da AIM.
Traduzido do inglês por Irmão Tomás de Aquino Santos Nonato, Obl. OSB.
[1] N. do. T.: Equivalente a Professos Simples em nossa tradição.
[2] N. do T.: A Igreja Siro-Malabar é uma Igreja Católica Oriental sui iuris de tradição caldeia em plena comunhão com a Santa Sé. Seu chefe é o Arcebispo Maior de Ernakulam-Angamaly, George Cardeal Alencherry. A cidade arquiepiscopal maior de Ernakulam situa-se na Costa do Malabar, no Estado de Kerala, sudoeste da Índia.