Dom Jean-Pierre Longeat, osb
Presidente da AIM
Irmãos segundo a Regra de São Bento
Se existe uma dimensão que é importante para São Bento, é a da fraternidade. Na Regra, ele privilegia o título de “irmão” para designar os membros da comunidade monástica. Em comparação, o título “monge” é muito menos usado. Podemos recordar aqui as conclusões de Christine Mohrmann que, em seu tempo, mostrou esta recorrência em relação ao ideal da primeira comunidade cristã pelos primeiros ascetas cristãos, sob a guia do Evangelho, como expressa bem o prólogo da Regra.[1]
Toda vez que São Bento usa o título de irmão, ele é carregado de significado; não tem um mero papel funcional neste uso. Marca um ideal. A comunidade monástica é descrita como um exército fraterno no qual se exercita e se torna mais experiente na luta contra o espírito maligno (RB 1, 5). Esta caracterização do gênero valoroso dos cenobitas certamente não é neutra. Deve ser levada muito a sério, assim como a imagem da escola do serviço do Senhor, ou da oficina onde se exercita com os instrumentos das boas obras. Ao falar de um exército fraterno, São Bento enfatiza a importância de aprender a vencer as armadilhas do adversário e, para isso, de contar com a experiência daqueles ao lado de quem se combate.
O compromisso fraterno na comunidade
Depois que o irmão noviço emite sua profissão, ele se prostra aos pés dos irmãos, pois a consequência imediata de seu compromisso é justamente a de pertencer a este corpo fraterno onde continuará a lutar contra tudo o que possa servir de obstáculo ao mandamento do amor (RB 58, 23).
No início e no final da Regra, esta dimensão também é lembrada como uma questão importante. Nos primeiros parágrafos, São Bento exclama aos irmãos: “Que há de mais doce para nós, caríssimos irmãos, do que esta voz do Senhor a convidar-nos” (Pr 19), e no capítulo 72, que pode ser considerado a verdadeira conclusão da Regra: “Ponham em ação castamente a caridade fraterna” (RB 72, 8). É porque uma voz fraterna se dirigiu a nós com toda a doçura do amor, que nos colocamos a caminho em uma comunidade, a fim de aí trabalhar, em companhia de outros, a dinâmica da caridade.
Entre estas duas menções, podemos dizer que toda a Regra consiste em responder de forma muito concreta ao chamado recebido da voz muito convidativa do Senhor e a colocar em prática, castamente, os deveres do amor fraterno.
O Prólogo já menciona essa dupla dimensão da escuta e da prática do mandamento do amor: “Meus irmãos, quando perguntamos ao Senhor: “Quem é aquele que deseja a vida e quer desfrutar de dias felizes?”” (Sl 33), ou ainda: “Quem habitará em tua casa, Senhor?” (Sl 14), insiste São Bento: “Irmãos, escutemos a resposta do Senhor”. A voz daquele que nos fala nos convida a nos colocarmos a caminho e a agir com eficácia. É preciso, a fim de incentivar este processo, chamar os monges de caríssimos irmãos, como faz São Bento. Mas de qual fraternidade é feito o programa da vida monástica?
Uma comunidade de irmãos
Em primeiro lugar, a comunidade é constituída como um conselho de irmãos, cuja opinião o abade escuta regularmente. Esta é uma das características desta vida comum. Isto acontece em diferentes níveis: ou com toda a comunidade reunida, ou com um conselho de “sábios” em torno do abade. Como a Regra nos lembra, é bom fazer tudo com conselho, e depois de feito não se arrependerá.
Estando os irmãos reunidos, será solicitado o parecer de cada um deles: isto é tanto um direito quanto um dever. Ninguém pode se eximir de tal solicitação. “Com toda humildade e respeito, os irmãos darão o seu parecer” (RB 3, 4). Há aqui uma qualidade de escuta, de atenção e de consciência de que o parecer individual vale menos do que o comunitário. “Tudo está ligado, e o todo vale mais do que a parte”. É isto o que ocorre nos conselhos fraternos. Quando esta dimensão não intervém com suficiente regularidade na vida de uma comunidade, pode-se ter certeza da ameaça do perigo.
Uma fraternidade humilde
É necessário manter o propósito da humildade no coração, a fim de fomentar uma verdadeira comunidade de irmãos. No capítulo 7 sobre a humildade, diz-se que o irmão sábio (literalmente aquele que quer ser útil) repetirá para si mesmo, incessantemente em seu coração, a fim de estar vigilante sobre seus pensamentos: “Se me preservar da minha iniquidade, serei, então, imaculado diante do Senhor” (7, 18). O pecado consiste essencialmente em virar as costas para Deus e querer agir somente por si mesmo. São Bento insiste: “Concluamos, irmãos, que devemos estar sempre vigilantes”. No final do capítulo 7, ele conclui: “Os irmãos suportam os falsos irmãos e abençoam aqueles que os amaldiçoam” (7, 43). Assim como no Prólogo e na Regra como um todo, o convite inicial é uma escuta, uma vigilância à qual os membros da comunidade são chamados em toda fraternidade, da mesma forma, no final, eles estão em condições de amar seus inimigos, de suportar os falsos irmãos, de abençoar aqueles que os amaldiçoam, em outras palavras, de praticar perfeitamente o mandamento do amor. É impossível avançar de outra forma: a humildade nos conduz à uma disposição de escuta, de atenção, de vigilância, para preservar nosso coração para seguir o Cristo em seu caminho pascal e para viver a comunhão fraterna, em verdade, como ele mesmo a viveu.
O belo testemunho de uma comunidade monástica no coração da sociedade vale sobretudo por causa desta capacidade fraterna que traz a graça da paz, da unidade e do amor.
Sob a guia de Cristo
O abade, que, por sua vez, tem a tarefa de manifestar a presença de Cristo no seio da comunidade, deve cuidar para que a inimizade fraterna não penetre no grupo. Ele permanece vigilante, especialmente com relação às suas próprias ações, que falam tanto e às vezes mais do que suas palavras. Verifica-se isto, particularmente, na qualidade de seu relacionamento com os irmãos, que ele abordará com humildade: “Viste o grão de palha no olho de teu irmão e não viste a trave no teu próprio” (RB 2, 15).
A responsabilidade do abade é a mesma, não importa quantos irmãos ele tenha a seu cargo (RB 2, 38). Ele terá que responder pelo progresso ou pelo retrocesso de cada um, devido à vigilância que lhe cabe. O capítulo 64 traduz isto em uma fórmula lapidar: “O abade odiará os vícios e amará os irmãos” (64, 11).
Os colaboradores do abade serão escolhidos geralmente com o conselho dos irmãos, como por exemplo, o prior (65, 15). Os decanos devem ser nomeados dentre os irmãos de boa reputação e vida santa (21, 1). No capítulo sobre o celeireiro, São Bento especifica a atitude fraterna que ele espera do responsável pela organização material do mosteiro: “Que o celeireiro não entristeça seus irmãos” (31, 6); “que ele possa dar uma boa palavra quando um irmão lhe pedir algo desarrazoadamente” (31, 7.13) e “que ele ofereça aos irmãos a parte estabelecida para cada um, de acordo com suas necessidades” (31, 16).
São Bento tem, portanto, a preocupação de envolver os irmãos na escolha de seus responsáveis, e de possibilitar a vivência da fraternidade em todos os seus aspectos, de tal modo que ninguém se entristeça na casa de Deus.
O serviço fraterno
Pode-se dizer que é toda a comunidade que deve ter essa preocupação. “Que os irmãos se sirvam mutuamente” (35, 1). Aqueles que entram em serviço a cada semana lavarão os pés de seus irmãos, imitando a Cristo na véspera de sua Paixão. A refeição e o serviço que ela implica são concebidos como momentos eucarísticos. Eles se referem aos ágapes que a primeira geração cristã realizava por ocasião da partilha eucarística.
Um cuidado especial é dado aos irmãos doentes que representam Cristo na comunidade de uma maneira muito especial (“Fui enfermo e visitaste-me” e “aquilo que fizestes a um destes pequeninos, a mim o fizestes”, RB 36, 2-3).
Mas há também uma grande atenção por parte de São Bento de que o serviço fraterno não crie nenhuma perturbação na comunidade: “Que os irmãos trabalhem sem murmurar” (41, 5). É por isso que a organização deve ser bem temperada, há um tempo para tudo: trabalho, liturgia, leitura espiritual, vida fraterna... Um capítulo inteiro é dedicado a esta distribuição do tempo e, finalmente (48), toda a vida é dedicada a uma atividade de conversão com um encorajamento mútuo. Se por acaso houver algum irmão que sofra de desânimo (acédia), é preciso apoiá-lo, estar ao seu lado e ajudá-lo superar tal etapa (48, 18). Por outro lado, é também importante que haja momentos pessoais nos quais a relação fraterna não sirva como uma dispersão (48, 21). Se há irmãos mais frágeis, deve-se ter um cuidado especial para com eles, e uma atividade proporcional deve ser encontrada para eles, para que possam participar do esforço comum e, ao mesmo tempo, não sejam sobrecarregados ou levados a fugir de sua tarefa (48, 24).
É necessário zelar para que os serviços não sejam muito pesados: na cozinha, nas oficinas, na enfermaria, na hospedaria, na portaria... Se o porteiro precisar de ajuda, um irmão mais novo o ajudará (66, 5). Isto parece trivial, mas é uma dimensão que desempenha um papel importante na qualidade da vida cotidiana. Quando alguém está sobrecarregado de trabalho, não pode servir seus irmãos em boas condições.
E assim como o celeireiro deve tratar os objetos do mosteiro com todo cuidado como vasos sagrados do altar, assim o abade confiará todo esse material a irmãos confiáveis, e ele ficará atento para que, em cada semana, nada seja dispersado, a fim de que os irmãos que se sucedem nos serviços não tenham surpresas e possam contar com a confiabilidade dos outros.
Uma vida de busca
A Regra especifica que a fraternidade está enraizada na busca de um fundamento interior que pode ser encontrado na oração e na meditação.
Além do fato de que nada deve ser preferido à Obra de Deus, ou seja, à oração comum, São Bento pede que o tempo seja empregado no estudo do Saltério e nas leituras. Sabemos que os antigos monges empregavam parte do tempo memorizando os salmos, que são a matéria-prima do Ofício. Portanto, os irmãos que precisam são chamados a se dedicar a essa ocupação durante o tempo livre após as Vigílias celebradas durante a noite, esperando o Ofício da manhã (8, 3).
A leitura no coro é objeto de um cuidado especial. Ela não deve ser desempenhada por alguém que não conhece a arte da leitura (9). Também aqui há um sentimento de fraternidade que toca as raízes do que é revelado.
Correção fraterna
A Regra é baseada na confiança fraterna. A comunidade está organizada como uma equipe esportiva onde cada um desempenha seu papel e conta com os outros para desempenhar o seu.
E cabe principalmente ao abade exercitar a confiança fraterna, sabendo naturalmente o que ele pode pedir a um ou a outro. Por exemplo, em matéria de administração, ele a confiará a irmãos dos quais esteja seguro (32, 1), e verificará se não há problemas no cotidiano, especialmente na transferência de responsabilidades.
Mas não devemos ser ingênuos; no mosteiro, como em todas as sociedades, existem fraudadores e é necessário corrigir e acompanhar as suas tentações de tomada de poder.
Não se pode alcançar uma vida fraterna harmoniosa sem colocar em prática algumas normas. É por isso que São Bento prevê medidas que incentivam a reflexão pessoal sobre a própria conduta, o que permite a correção. Isto acontece especialmente no contexto de reuniões comunitárias diárias (liturgia, refeições). Um irmão culpado de uma falta pode ser temporariamente excluído da mesa comum ou da oração comum (24-29). Esta privação visa afirmar a vida fraterna como um bem superior aos desejos multiformes e desordenados de cada um. Hoje, vemos um fenômeno perturbador que leva alguns irmãos ou irmãs a se manterem separados por própria vontade, sem que isso seja considerado uma dificuldade ou uma provação. Estão felizes em cultivar sua própria diferença sem se preocupar com o bem comum e estão convencidos desse direito. Assim, os modos de correção fraterna adaptados à mentalidade contemporânea são tão difíceis de encontrar que acabamos por aceitar que eles quase não existem mais. Parece-me que este é um assunto que precisa ser aprofundado na vida de nossas comunidades, a fim de encontrar a maneira correta de agir.
A conclusão da Regra
No final de sua Regra, São Bento insiste muito na dimensão das relações fraternas. Ele pensa nos irmãos que partem em viagem, seja para perto ou longe do mosteiro. Ele pede que os irmãos sejam abençoados em sua partida e que se reze por eles quando retornam. Ele se preocupa em como lidar com a questão das coisas ordenadas que parecem estar além das possibilidades do irmão ao qual a ordem é dirigida. O processo do debate é notável (cf. 68).
Ele pede que ninguém bata ou puna outro irmão deliberadamente, mas que a correção fraterna seja regulada pelo abade e pela comunidade.
Acima de tudo, ele pede que os irmãos se obedeçam mutuamente (71). Portanto, que haja no mosteiro uma vontade de escuta recíproca e de agir de forma unida. E se um irmão irritou outro, ele deve imediatamente reconhecer seu erro e pedir perdão ali mesmo (71, 6).
São Bento resume sua preocupação em considerar a horizontalidade fraterna com esta fórmula lapidar: “Ponham em ação castamente a caridade fraterna” (72, 8), isto é, que ninguém ouse se aliar a outro, nem bater em quem quer que seja.
Conselhos para viver a fraternidade
Apontamos aqui alguns conselhos da Regra que concretizam a relação fraterna. A coisa mais importante para viver livremente a fraternidade é se desapegar de tudo e sentir-se dono de nada, e cuidar das necessidades de cada um, tanto de corpo quanto de alma.
Um diálogo necessário para a interpretação das ordens recebidas será integrado à vida fraterna, tornando sua execução ainda mais relevante, mesmo quando se trata de coisas que, à primeira vista, parecem impossíveis (68). Dessa maneira, os irmãos aprenderão a colocar em prática uma vontade comum que possa ser enraizada na vontade de Deus (71).
Naturalmente, serão evitadas, a todo custo, as vinganças pessoais que fariam arbitrariamente prevalecer a lei do mais forte: ninguém tomará decisões subjetivas e radicais a respeito dos outros irmãos; as decisões serão remetidas para os responsáveis (70). Mas, por outro lado, uma união mal-intencionada entre dois irmãos também deve ser evitada.
Os monges não devem se preocupar com sua aparência no que diz respeito ao vestuário, mas devem receber suas vestes da comunidade, sem preocupação de estilo ou cor, mas com um senso de moderação e, portanto, sem despesas excessivas (55).
Não deve haver monopolização dos dons provenientes do exterior ou do interior do mosteiro, mas se deve aceitar que sejam dados a outros a quem eles forem mais úteis.
Deve-se ter o cuidado de adotar interiormente a atitude permanente que marca o dia da profissão definitiva, quando o novo irmão se prostra aos pés de todos os outros e pede suas orações, a fim de ser recebido plenamente na fraternidade da comunidade. Ele manterá também o seu lugar de ordem para eliminar as diferenças sociais e para que em tudo prevaleça a comunhão.
Quando os irmãos se encontrarem, eles se cumprimentarão de forma fraterna. Os jovens honrarão os mais velhos e esses amarão os mais jovens: eles se chamarão afetuosamente de “irmão” e “nono” (nonni). Isto caracterizará a relação vivida dentro do mosteiro: uma relação substancial com referência ao mandamento da caridade.
Deve-se evitar que os jovens sejam deixados juntos o tempo todo; eles devem ser integrados com os mais velhos para que tenham algum tempo para a reflexão e não sejam tentados a entrar em fácil contestação ou a se dispersarem do que é essencial (22).
Os irmãos se revezarão para servir uns aos outros à mesa e se assegurarão de que não falte nada a ninguém (38, 6). Haverá dois pratos de cozidos para que nenhum irmão seja privado se não puder comer de um deles.
Os irmãos assegurarão também a leitura à mesa a cada semana e, para que não lhes seja pesado, poderão tomar a refeição antes do serviço, especialmente se estiverem em jejum desde a manhã (38, 6.10).
É importante que os irmãos façam tudo o que têm que fazer sem serem tentados a murmurar interna ou externamente. São Bento é muito sensível a esta dimensão para a qualidade da vida fraterna.
Ele também é sensível ao fato de que tudo aconteça no devido tempo. Ele prevê que o próprio abade toque o sino para a liturgia ou então que ele confie essa tarefa a um irmão que seja pontual, de maneira que o ofício nunca seja perdido (47). E quando o ofício termina, todos os irmãos saem do oratório em sumo silêncio (52).
São Bento também prevê que alguns irmãos possam permanecer no oratório após o ofício. Neste caso, eles o farão com discrição, dirigindo a Deus suas súplicas sem rumores de voz (52).
Acolhida fraterna
Os irmãos são convidados a compartilhar sua oração e parte de sua vida com as pessoas que vêm se hospedar no mosteiro. Este é um ponto forte da vida monástica de acordo com São Bento. Os irmãos não estão destinados a se isolar em si mesmos. Eles devem ser testemunhas da importância da comunhão fraterna para aqueles que eles acolhem (53).
São Bento especifica que todo hóspede será recebido como o Cristo, de tal modo que à sua chegada, o abade e todos os irmãos corram ao seu encontro, mostrando-lhe todos os sinais de caridade (53, 3). Eles rezarão juntos e o abade lavará seus pés, seguindo o exemplo de Cristo para com seus discípulos.
O abade tomará a refeição com os hóspedes e romperá o jejum por causa deles; ele poderá convidar outros monges para sua mesa (56, 2), enquanto que a comunidade dos irmãos manterá a prática do jejum de acordo com a Regra (53, 10).
Quando há muitos hóspedes, o importante é que tudo seja organizado de tal forma que a vida dos irmãos não seja perturbada em seus aspectos fundamentais (53, 16). É por isso que a função de hospedeiro requer grandes qualidades espirituais, especialmente a consciência da presença permanente de Deus, que dá sentido a todos os relacionamentos e a todos os atos da vida (53, 21).
Os monges não estão enclausurados de forma absoluta, segundo a Regra de São Bento. Eles viajam e estão em contato frequente com pessoas externas. Um capítulo inteiro é dedicado aos irmãos que partem em viagem (67). Quando os irmãos têm que deixar o mosteiro por algum tempo, eles pedem a oração da comunidade na partida e no retorno, e permanecem ligados a ela, na medida do possível, assegurando as horas de oração.
Conclusão
Enfim, a Regra de São Bento não é um tratado sobre a fraternidade como uma ideia generosa à qual seria bom estar ligado, mas sim um convite para colocá-la em prática dentro da estrutura de uma comunidade de vida permanente. Esta fraternidade se estende aos hóspedes, acolhidos no mosteiro e a todos aqueles que, perto ou longe, estão ligados à comunidade. Finalmente, como vemos ao longo da história humana, este testemunho fraterno é um elemento estimulante na construção de toda a sociedade. Na verdade, as comunidades monásticas provam que a fraternidade é possível; elas a vivem ao longo do tempo com estabilidade. O fator tempo é essencial no ideal monástico mesmo que, infelizmente, o espaço tenha muitas vezes desviado a atenção dele: às vezes estamos mais atentos à estrutura que pode se tornar fixação e incapaz de adaptação.
São Bento, como vemos em sua vida escrita por São Gregório Magno, amava este papel essencial da fraternidade na construção da sociedade. Ainda hoje, ele nos convida a sermos verdadeiras testemunhas que dão suas vidas por amor no seio de uma comunidade fraterna.
[1] Christine Mohrmann, “Le rôle des moines dans la transmission du patrimoine latin”, Revue d’histoire de l’Église de France, 1961, n° 144, p. 185-198.