O mosteiro de Santa Maria, Mãe da Igreja
Uma semente de vida monástica
na região de Trás-os-Montes (Portugal)
As Irmãs de Palaçoulo, ocso
Nós vos escrevemos de Portugal, onde desde outubro passado abrimos um novo mosteiro: Santa Maria, Mãe da Igreja. Por enquanto, vivemos na nova casa que será a futura hospedaria, enquanto esperamos para construir o mosteiro.
Aqui começamos a vida regular e estamos dando os primeiros passos para organizar um trabalho produtivo. No momento, fazemos terços, vendemos livros de orações para as crianças, que tínhamos preparado enquanto ainda estávamos em Vitorchiano, e agora estamos começando uma produção de biscoitos de amêndoas. Nossos 28 hectares de terra, além da parte destinada à construção, já tem uma plantação de 500 amendoeiras (as amendoeiras serão usadas no futuro para a produção de biscoitos) e um pomar com várias árvores frutíferas para as necessidades da comunidade e dos hóspedes. A hospedaria é composta por oito blocos ligados entre si para formar um único edifício; assemelha-se a uma pequena aldeia, ou seja, reproduz as características de uma aldeia típica da região de Trás-os-Montes onde nos encontramos.
O exterior da hospedaria é parcialmente coberto com xisto, para enfatizar a proximidade com as características das casas dos vilarejos vizinhos, construídas com esta pedra. Nosso terreno mesmo é rico em xisto. Nós transformamos uma parte substancial da hospedaria em um verdadeiro mosteiro: no primeiro andar, além dos quartos que nos servem como celas, criamos locais para os serviços indispensáveis (lavanderia, alfaiataria e costura, economato, escritório da superiora). No andar térreo, criamos os lugares regulares: a pequena capela serve como coro monástico, a futura sala de leitura serve como scriptorium, a sala de reuniões como Capítulo; há também o refeitório e a cozinha.
Graças à presença de uma escadaria externa, que mantém uma certa separação, organizamos uma parte da casa para alguns hóspedes que já desejam compartilhar nossa experiência de vida e de oração. Pedimos ao Senhor que nos abençoe com algumas vocações locais.
Nós estamos localizadas em Palaçoulo, a cerca de 2 quilômetros do vilarejo, perto da fronteira com a Espanha, na área periférica e bastante despovoada de Trás-os Montes, onde os jovens emigram; os muitos vilarejos espalhados por aqui e ali são geralmente habitados por pessoas idosas.
A paisagem aqui conserva algo de não contaminado e vasto: há poucas casas e poucos agricultores que ainda cultivam a terra. É por isso que o céu é amplo e é uma maravilha, neste pequeno Portugal, sentir-se envolvido por um céu que segue a abóbada do horizonte sem nenhuma ruptura. A natureza, em vastas áreas montanhosas, tem algo de intacto. Algumas águias plainam sobre as encostas íngremes do rio Douro.
Do ponto de vista logístico, nossa situação é bastante incomum: vivemos em um país da rica Europa e nos vemos obrigadas a responder às exigências de construção de um mundo em construção, mas nós somos diariamente confrontadas com a falta de estruturas e infraestruturas adequadas e com uma certa inércia por parte das instituições municipais que dificilmente respondem aos serviços mais básicos.
As etapas desta fundação foram marcadas por uma experiência difícil: por um lado, é um verdadeiro milagre e, por outro, há uma exigên-cia de paciência, de tenacidade, na qual tivemos que nos lembrar por que vale a pena se degastar e arriscar construir uma semente de vida monástica em nossa Europa secularizada e cética. Realmente houve um gosto de milagre com a generosidade dos paroquianos deste lugar que quiseram nos doar uma parte de suas terras (nossa propriedade atual é composta de 32 antigos lotes diferentes); comovente também é a generosidade do bispo e do pároco daqui que, com paciência, teceram as relações, permitiram encontros, ajuda e contatos para que a vida cisterciense pudesse retornar a este país. Mas também paciência e tenacidade, porque também encontramos muitas dificuldades burocráticas, com a falta de fundos e a falta de interesse de algumas grandes empresas que nos obrigaram a nos ocupar da rede elétrica, da canalização de água, a construir e administrar um sistema de esgoto, uma instalação de gás, trabalhos para instalar a internet (que por enquanto só funciona com o sistema de satélite) e a falta de uma estrada adequada para chegar ao vilarejo. Nós construímos em parte esta estrada: agora ela será concluída em terra batida e cascalho com um grande esforço da prefeitura daqui.
Atualmente nós trabalhamos no projeto do mosteiro, uma empresa ainda mais exigente do que a da hospedaria, tanto porque ele foi projetado para acolher quarenta monjas quanto porque o edifício pretende incluir, no seu interior, salas para o trabalho.
O edifício foi projetado para integrar-se harmoniosamente ao ambiente natural e adaptar-se ao aspecto montanhoso do terreno: por esta razão, nós planejamos uma distribuição dos cômodos em vários andares. O projeto, baseado na estrutura de um mosteiro tradicional, prevê o claustro no centro, no coração do edifício. Ao seu redor, se abrem todos os outros ambientes nos quais a vida da comunidade monástica vai se desenvolver. A igreja, voltada para o leste, está posicionada na parte superior do terreno, de modo que pode ser vista até mesmo de longe. O andar inferior será usado para as áreas de trabalho e os locais técnicos, enquanto o primeiro andar será usado para os dormitórios e a enfermaria.
Por que estamos aqui? Por que deixamos nosso mosteiro onde éramos felizes e nossa grande comunidade que amávamos? A resposta é bem simples: o bispo de Bragança, que acredita na vida monástica e em sua capacidade de testemunho e de atração cristã, nos chamou para sua diocese.
Nossa comunidade atual, composta de dez irmãs, vem do mosteiro de Vitorchiano, que em cinquenta anos fundou oito mosteiros,
dos quais o primeiro foi na Toscana: as vocações em Vitorchiano eram numerosas e não havia espaço para todas; mas logo depois, foram feitas fundações em países onde não havia mosteiros trapistas: na Argentina, no Chile, na Venezuela, na Indonésia, nas Filipinas, na República Tcheca, e agora em Portugal. Além disso, ajudamos um mosteiro na República Democrática do Congo, enviando cinco irmãs para ajudar a frágil comunidade de lá. Em todos estes casos, a iniciativa não veio de nós: foi sempre por convite de um bispo ou então havia uma proposta vinda de outras pessoas para irmos fundar em uma diocese.
Por que todas essas fundações foram feitas, muitas vezes em condições difíceis, seja do ponto de vista econômico seja por outras dificuldades? Porque a missão, o fato de levar Cristo aos outros, caracteriza todos os cristãos e em particular os institutos religiosos e as pessoas consagradas cujo carisma foi oficialmente confirmado pela Igreja.
A vida monástica, que remonta aos primeiros séculos do cristianismo e que ao longo dos séculos se desenvolveu sob diferentes formas, contribuindo também para o crescimento da civilização e da cultura, sempre buscou e promoveu a missão de tornar Cristo conhecido através do testemunho de uma vida orante, fraterna e laboriosa. Este testemunho foi recebido em lugares e culturas muito diferentes e se espalhou enormemente, mesmo através das dificuldades e dramas da história humana.
Além da missão, e apesar do voto de estabilidade que liga o monge à sua própria comunidade, o monaquismo sempre favoreceu a xeniteia, ou seja, o fato de ir testemunhar o Cristo em um país estrangeiro: ali as condições de vida, a língua e os costumes fazem dele um testemunho difícil, doloroso; assim o monge, a monja missionária se assemelha cada vez mais a Cristo, que sofreu e morreu por nós.