Dom Maksymilian R. Nawara, osb
Abade Presidente da Congregação da Anunciaçã

 

Somos formados “permanecendo com”

 

“No dia seguinte João ainda se encontrava lá com dois dos seus discípulos. Pousando os olhos em Jesus que passava, disse: “Eis o Cordeiro de Deus”. Os dois discípulos escutando o que ele disse, seguiram Jesus. Jesus voltando-se viu que eles o seguiam e perguntou “O que procurais?” Eles responderam: “Rabi – que quer dizer Mestre –, onde moras?” Ele disse-lhes “Vinde e vede”. Eles foram, viram aonde morava e ficaram com ele aquele dia. Era pela décima hora (mais ou menos 4 da tarde)” Jo 1, 35-39

LectioNawaraJoão Batista é o mensageiro que veio como testemunha da luz (Jo 1,6), ele endireitou o caminho para o Senhor (Jo 1,23) para dar a conhecer o Cordeiro de Deus (Jo 1, 29). Ele conhecia Jesus e esperava-o, mas precisou de tempo com Jesus para se formar.

No evangelho de João, o Batista em conversa com os fariseus revela a sua identidade: “Eu não sou o Messias” (Jo 1, 20-27). Pouco tempo depois, o Evangelho diz: “No dia seguinte” João encontrou Jesus e reconheceu-o, e deu testemunho dele aos seus discípulos “Ele é o Filho de Deus” (Jo 1, 34). Apesar disso, depois de ter ouvido o que diziam de Jesus, João que estava na prisão, enviou mensageiros a Jesus para lhe perguntar: “És tu aquele que esperamos?” (Mat 11, 3). Vê-se claramente que ele precisou de tempo com Jesus para se formar.

Vivemos num momento da história em que os progressos tecnológicos permitem-nos fazer coisas mais eficaz e rapidamente. Temos acesso a diversas coisas muito mais facilmente. Além disso o acesso ao saber está ao alcance da mão e o ensino à distância está disponível dentro do claustro. Mas, ao mesmo tempo, um dia continua a ter 24 horas e a semana sete dias. Poderíamos pensar que temos mais tempo, e no entanto...vivemos numa época em que não temos tempo. Mesmo nos mosteiros ouve-se, muitas vezes, os monges, ou as monjas lamentarem-se por não terem bastante tempo para fazer tudo o que gostariam.

O Evangelho nos para e chama a nossa atenção para os fundamentos da formação humana. É preciso tempo para que um encontro se torne conhecimento. É preciso tempo para que um conhecimento seja um testemunho. Sem esse tempo o testemunho não tem valor, porque falta-lhe experiência.

 

Ficai com Jesus

Dois discípulos de João ouviram o mestre falar do Cordeiro de Deus e seguiram Jesus. Começa para eles uma nova etapa: os discípulos da Voz tornam-se discípulos da Palavra.

Seguir Jesus, seguir o mesmo caminho do Filho, é uma síntese da experiência cristã. O cristianismo não é um conjunto de belas histórias, ou de imperativos morais; é a realidade da pessoa de Jesus que é seguida, porque amada: “Quem me segue terá a luz da vida e não andará nas trevas” (Jo 8, 12).

Em João 1, 36 Jesus volta-se para os que o seguem, e pela primeira vez (no evangelho de João) abre a boca e pronuncia suas primeiras palavras em forma de pergunta”Que procurais?” Esta pergunta é crucial por muitos motivos. O que é que eu procuro na vida, no meu trabalho, nas minhas relações? O que procuro na Igreja, na minha comunidade monástica? Todas estas perguntas, e muitas outras, são importantes a todos os níveis da formação monástica. A pergunta de Jesus está igualmente ligada ao tempo, e é muito justa: “Eu passo o tempo sobre o que procuro. O que é que procuro e pelo qual invisto tempo?” A resposta dos discípulos não é direta. Não dizem “Procuramos isto ou aquilo”, nem dizem “Procuramos o Messias”. Fazem outra pergunta: “Onde moras, Rabi?” Esta pergunta expressa o desejo profundo de ficar com Jesus. E Jesus responde: “Vinde e vede”.

É aqui que começa o caminho do discípulo da Palavra. Passar das ideias, das teorias, das declarações, das manifestações e slogans para uma partilha de vida. Partilhar minha vida é partilhar meu tempo com alguém, com esse Alguém que encontrei, com Jesus. Não há outro meio para verdadeiramente conhecer Jesus, senão partilhando tempo com ele: na oração, na lectio divina. Mas esta verdade está intimamente ligada a uma resposta honesta à pergunta: “O que procuro?” O que é que procuro e pelo qual aceito perder tempo?

 

Partilha

O Evangelho diz: “Foram e viram aonde morava e ficaram com ele aquele dia”. Mais uma vez encontramos afirmações chaves: É preciso tempo para que um encontro se torne conhecimento. É preciso tempo para que um conhecimento se torne testemunho. O fruto do tempo passado com Jesus é o testemunho: “Encontramos o Messias”, encontramos a luz da vida.

A formação monástica está principalmente centrada na partilha. Partilhar a vida diária, o tempo, o trabalho, tudo. Como podemos aprender a viver juntos se não partilharmos diariamente tempo com nossos irmãos e irmãs? Como podemos conhecer Jesus se não partilhamos
nosso tempo com ele? Um conhecimento se tornará testemunho com o tempo. No caminho monástico somos formados estando com ele, assim como com nossos irmãos e irmãs.

“Vinde e vereis, quero dizer-vos tudo. Eu vos guiarei dia após dia”.