Irmã Marie Ricard, osb
Comunidade de Martigné-Briand, França
A formação “Ananias”
Desde 2014 que existe um programa de formação de formadores monásticos para os países de língua francesa. As sessões acontecem de dois em dois anos na França e na Bélgica.
O espírito “Ananias” define-se como uma grande mergulho espiritual, centrado na Palavra de Deus e vivido em corpo fraterno, tal é a proposta oferecida aos monges e monjas já experientes no seu caminho comunitário.
Quem participa? As sessões dirigem-se aos mosteiros beneditinos e cistercienses de língua francesa, de todos os continentes. As inscrições são para monges e monjas que já têm formação monástica e uma certa experiência comunitária, irmãos e irmãs com capacidades para assumir uma tarefa de responsabilidade.
Duração: três meses
Número de participantes: entre 20 e 25. O equilíbrio monges/monjas é importante, mas a realidade nem sempre obecede a este princípio.
Conteúdo: Vários
- Vida monástica e Evangelho (o discípulo do Cristo vive com a Palavra).
- São Bento.
- O saltério.
- História do monaquismo.
- Acompanhamento espiritual.
- Vida comunitária.
- Desenvolvimento humano. Psicologia e vida espiritual, etc.
- A Liturgia, experiência monástica.
A formação não tem, evidentemente, nenhum objetivo universitário! O principal é abrir portas. Pode-se dizer tudo, dar tudo, mas trata-se de formar a pessoa para enfrentar seu papel de formadora, ou de transmissora, dando-lhe os instrumentos de pesquisa. O essencial da formação é a transmissão da vida.
Como? A vida e o desenvolvimento das sessões:
- Os participantes são chamados a criar entre eles uma verdadeira fraternidade durante os 3 meses de vida comum: é a base necessária para tudo o que vai ser vivido. As sessões são práticas de vida, e não somente de informação.
- Os dois, ou três primeiros dias são consagrados a encontros, partilhas sobre a caminhada de cada um, sob a orientação de um moderador. Cada um é também convidado a dizer o que espera do encontro, suas questões e observações.
- Os participantes são acolhidos em diferentes mosteiros. Em 2018 foram estes os mosteiros que acolheram: La-Pierre-qui-Vire, La Coudre (Laval), Martigné-Briand e Bellefontaine.
- Estão previstas peregrinações, excursões.
- Um “ancião” (ir. Cyprien do Mosteiro La-Pierre-qui-Vire) acompanha o grupo ao longo dos três meses. Presença discreta, mas “fundamental para fazer a unidade do grupo”.
- Também a participação do pastor Pierre-Yves Brandt, professor de psicologia religiosa da universidade de Lausanne, excelente conhecedor e amigo da vida monástica, foi considerado indispensável; três vezes vem encontrar o grupo durante alguns dias.
- Os professores são todos monges e monjas; há também alguns professores leigos, ou profissionais de esta ou aquela matéria.
O percurso quer oferecer cursos, mas também grupos de reflexão, uma inteligência global da nossa vida monástica. Quer ajudar a assumir melhor responsabilidades de formação, ou outras em relação aos irmãos/as, ou a pessoas de fora. Desde a última sessão colocamos um acento especial no acompanhamento pessoal dado a cada participante.
As etapas passam-se em quatro mosteiros; como já é hábito, começa-se no mosteiro La-Pierre-qui-Vire. Cada etapa desenvolve um aspecto fundamental:
- A Palavra de Deus, base das nossas vidas. No centro: o mistério pascal.
- Transmitir a Tradição. É o tempo de retomar a Regra e grandes valores fundamentais: autoridade-obediência; desapropriação e economia; acompanhamento espiritual.
- Afetividade e celibato. Uma etapa mais pessoal que pode ir ao encontro do que cada um tem no mais profundo de si, nas suas forças e suas fragilidades.
- Vida comum. A Igreja-Fraternidade; inculturação; vida fraterna. Votos. Inserimos um outro tema tendo em conta a dimensão da ecologia integral.
- Assinalamos também as saídas propostas em cada etapa.
É importante que cada inscrição seja acompanhada por uma motivação clara, tanto da parte do superior/a, como da parte do irmão, ou da irmã inscrito/a. Uma carta pessoal do superior/a deve acompanhar a inscrição definitiva. Cada irmão, ou irmã junto com a inscrição deve enviar uma carta em que diz o que espera destes três meses.
Os três meses formam um todo, quer dizer que não se pode escolher participar disto, ou não. Sendo que a proposta é um percurso de formação, é global: trata-se de se formar, e não de adquirir conhecimentos, ou um método. Isto supõe que cada um se empenhe pessoalmente, durante os 3 meses e com um grupo estável.
Saber francês é uma exigência, e sempre insistimos nisto. A experiência mostrou que o irmão, ou a irmã só pode tirar verdadeiramente proveito destes três meses, se dominar suficientemente a língua, mesmo que isto leve a precisar de um investimento suplementar.
A Sessão de 2018
A última sessão aconteceu de 6 de setembro a 28 de novembro de 2018, com 19 monjas e 7 monges. O grupo foi acompanhado pelo irmão Cyprien do mosteiro La-Pierre-qui-Vire, que escutou cada um e velou pela organização. Ele estará presente na próxima sessão... que esperamos possa vir a acontecer.
O grupo teve uma forte presença africana: 16 participantes vinham de algum país da África. Nove vinham da França (mas 4 não eram de origem francesa, e entre elas duas eram Africanas). O único monge francês vinha de Latroun, em Israel.
O intercultural não foi uma teoria. O balanço final sublinhou que as descobertas mútuas foram enriquecedoras, sem ignorar as inevitáveis dificuldades, incompreensões vindas de toda a vida comum, sobretudo quando os contextos culturais são diferentes. A força do grupo foi seu espírito fraterno, que se manifestou desde o primeiro dia. Com a certeza de poder construir sobre esta pedra, os irmãos e as irmãs não hesitaram em falar entre si com verdade, quando as tensões podiam estragar a fraternidade. Este aspecto nos impressionou e queremos pô-lo em relevo.
Como podem imaginar, a dança, o canto e o ritmo não faltaram, e coloriram estes meses. Também os mosteiros que acolheram os membros souberam integrar isto nas celebrações litúrgicas.
Para o conteúdo, mantivemos o que foi vivido nas duas sessões anteriores, acentuando o acompanhamento pessoal.
Assinalemos também as saídas, uma por etapa:
- Taizé, com a possibilidade de passar dois dias, junto com os jovens, e tão fraternalmente acolhidos pelos irmãos. Uma parada em Cluny permitiu um olhar sobre a história monástica na França.
- O mosteiro ortodoxo São Silouane, na Sarthe, onde os irmãos e as irmãs participaram na liturgia eucarística, e sentiram o sofrimento da divisão dos cristãos, pois que não podemos comungar juntos. Mas o acolhimento foi muito fraterno e alegre.
- Ligugé, o mosteiro de São Martinho, a abadia mais antiga conhecida da Gália, fundada no séc. IV por São Martinho. Na volta passamos pela abadia da Santa Cruz, próxima, que tem uma relíquia da verdadeira cruz. Podemos venerá-la antes das vésperas.
- Candes, aonde morreu São Martinho, depois a abadia Fontevrault, que se tornou um centro cultural. Mais uma bela etapa do monaquismo a descobrir.
A sessão de 2021
No começo de 2020 começamos a preparar a sessão de 2021. Por causa do contexto sanitário difícil de prever, pareceu-nos mais prudente adiar para o ano seguinte. A próxima sessão acontecerá de 7 de setembro a 1 de dezembro 2022.