Conforme um texto escrito pelo Hieromonge Serapião
Do Mosteiro de Simonos Petra (Monte Atos, Grécia)

Geronda Aimilianos
Do Mosteiro de Simonos Petra

 

“Tu me deste a conhecer o caminho da vida. Junto de Ti felicidade sem limite, mostrando-me o teu rosto” (Sl 15,11)

 

O arquimandrita e Geronda Aimilianos, no mundo chamado Alexandre Vafidis, higomene (superior) do Mosteiro de Simonos Petra de 1973 a 2000, nasceu em Nicée do Pirée.

Em 1906 sua família estabeleceu-se em Simandra, na Capadócia. Depois após a catástrofe da Ásia Menor e a troca de populações, chegou à Grécia. Embora casados, os pais do pequeno Alexandre viviam como monges, rezando as vigílias noturnas e dando-se à oração. Depois que ficaram viúvas, sua avó e sua mãe tornaram-se monjas.

Alexandre, depois de terminar os estudos secundários, continuou a estudar na Universidade de Atenas, primeiro na Faculdade de Direito, por dois anos, depois na Faculdade de Teologia, conforme seu desejo. Na Universidade, com alguns colegas, doou-se com muita energia para o desenvolvimento da fé e da vida cristã. Pensava ser padre e até missionário. Mas pensou que era melhor preparar-se bem começando sua formação num mosteiro.

O bispo de Trikala reparou nele, e, em 1960 o jovem Alexandre abriu-se com ele. Finalmente fez-se monge com o nome de Aimilianos no mosteiro de São Vissarion de Doussiko. Logo foi ordenado diácono pelo bispo, que o enviou para diferentes mosteiros dos Météoros até sua ordenação sacerdotal. Depois viveu no mosteiro de São Vissarion de Doussiko durante algum tempo. Aí se aplicou à solidão e à procura da paz interior. Também aí cresceu seu profundo desejo do renascimento do monaquismo.

Algum tempo depois foi escolhido para Higoumene (superior) do Santo Mosteiro da Transfiguração, do Grand-Météore. No começo estava quase sozinho, e levou uma vida ascética. Vigiava, rezava e integrava os elementos da tradição monástica. Vendo uma tal seriedade, o bispo lhe confiou um cargo pastoral e ele passou a receber sempre mais fiéis que se confiavam a ele. Muitos jovens vinham a ele para se confessarem. Em breve se tornou o pai espiritual de muitos. Entre estes jovens muitos pensavam na vida monástica e, com o tempo, formaram o primeiro núcleo da comunidade do Mosteiro do Météore, enquanto outros se orientaram para a vida sacerdotal ou vida familiar. Mas todos constituíam como uma grande família espiritual alargada, tendo como centro o mosteiro.

Foi nesta época que o P. Aimilianos começou a ir à Santa Montanha para aí recolher a riqueza de sua herança espiritual. Conheceu o P. Païssios, e o Papa Efrem de Katounakia com quem teceu uma grande amizade espiritual.

Em 1972 acompanhou a fundação de uma comunidade feminina nos Météores. Em 1973 foi escolhido pelos anciãos, como higoumene do Mosteiro de Simonos Petra. Os padres da Santa Montanha viram com muita esperança a instalação da comunidade dos Météores no Monte Atos. De fato, outras comunidades se seguiram e os monges do Monte Atos cresceram muito em número.

Levando sua vida monástica com vigilância, celebrando a Divina Liturgia e cumprindos seus outros deveres, o P. Aimilianos concentrou-se na reorganização da vida interna da nova comunidade. Com respeito e amor soube enxertar na experiência dos mais velhos o entusiasmo juvenil, a dedicação e o zelo dos monges mais jovens, que contribuíram assim para o crescimento da comunidade. Sua boa administração e sua vigilância paterna permitiram-lhe restaurar a autoridade e voltar a valorizar a tradição multisecular deste grande mosteiro, tão conhecido desde há muito.

Depois de firmar bem sua comunidade na Santa Montanha, o P. Aimilianos preocupou-se com a vida da comunidade feminina de Ormylia, reunida desde o dia 5 de Julho de 1974 na antiga casa dependente (metochion) de Vatopédi “A Anunciação da Mãe de Deus”, que foi comprada pelo mosteiro de Simonos Petra com a aprovação do bispo do lugar e a ajuda da Santa Comunidade. As irmãs aí estabeleceram-se e viveram, como casa dependente (metochion) do mosteiro de Simonos Petra. Mas tudo isso não se fez sem sofrimento e trabalhos.

Geronda Aimilianos acolheu um certo número de estrangeiros que se tornaram monges sob a sua direção. Foi o caso do P. Placide Deseille e do P. Elias Ragot vindos da França: Santo Antão, o Grande para os monges; Proteção da Mãe de Deus (Solan) e Transfiguração do Salvador (Terrasson) para as monjas, onde o P. Aimilianos foi muitas vezes.

Era muito solicitado para conferências ou acompanhamento espiritual, acolhendo tudo como uma bênção de Deus.

Nos anos 1990 sua saúde diminuiu de modo irremediável. P. Aimilianos teve de deixar progressivamente seu cargo de higoumene. Em 2000 foi para o mosteiro de Ormylia onde passou os últimos 20 anos de sua vida no abandono e na paciência diante do sofrimento.

Seu ensinamento espiritual foi reunido em vários volumes pelas irmãs de Ormylia. Alguns foram traduzidos do grego para o francês:

- Le Sceau véritable (1998)
- Sous les ailes de la colombe (2000)
- Exultons pour le Seigneur (2002)
- Le Culte Divin (2004)
- De la chute à l’éternité (2007)
- Discours Ascétique d’Abba Isaïe (2015)
- La Voie royale – St Nil de Calabre (2017)

Conforme as palavras do seu sucessor Geronda Elisée:

“O superiorado de Geronda no Santo Mosteiro de Simonos Petra foi um marco importante na história recente do mosteiro. Foi um período abençoado, em que o mosteiro reencontrou uma grande irradiação, período que coinicidiu com o aumento do número de monges e a irradiação do conjunto da Santa Montanha, graças à proteção da Santíssima Mãe de Deus. No entanto, como ele próprio o diz na Regra monástica (Typicon) de Ormylia (1,9): “A comunidade monástica do Cenóbio, vivendo a seu ritmo próprio, vive na Igreja e para a Igreja, como o coração, ou qualquer membro do corpo. Ela não é apreciada por causa de qualquer atividade, mas pela procura amorosa de Deus. Deste modo as monjas tornam-se imagens perfeitas de Deus, atraindo outros para a vida divina”.

Depois de longos anos passados no silêncio e num leito de dor, Geronda Aimilianos chegou à morada celeste, docemente, no dia 9 de maio de 2019. Que sua memória seja eterna.

 

Arquimandrita Basile, Prohigoumène
Mosteiro de Iviron

Homilia no funeral de Geronda Aimilianos

27 de abril / 10 de maio 2019 - Ormylia

 

Hoje, pela graça de Deus, Gerona Aimilianos nos reuniu a todos para esta sinaxe pascal. Conheço o P. Aimilianos desde os anos dos estudos. Estávamos juntos no grupo de catequese dirigido pelo atual Bispo de Albânia, Anastase (Gianoulatos). Os anos passaram e ele foi para os Météores. O fato de ter feito tantos progressos espirituais, de ter reunido jovens, de ter fundado esta comunidade, que se instalou depois no Monte Atos, e depois esta última comunidade de irmãs, mostra que ele tinha a assistência e a bênção de Deus.

Depois outra coisa notável, é que ele tenha ficado 20 a 25 anos como um morto não enterrado. É um outro testemunho de fé, pois o P. Aimilianos não somente trabalhou como hygoumène, mas como pregador não dizendo nada. Mas não dizendo nada, não falando, transmitia-nos as palavras inefáveis da vida eterna. E quando ele não compreendia nada, já estava com os anjos. Penso que hoje entendemos tudo.

O P. Aimilianos vai-se, mas deixou-nos esta instrução, quer dizer, trabalhou muito, fundou comunidades vivas e, depois durante 25 anos, falou-nos sem dizer nada. As mulheres mirróforas receberam do anjo a ordem de anunciar o acontecimento da Ressurreição e, “retirando-se não disseram nada a ninguém, porque tinham medo”. Elas tinham medo e não queriam tocar o inexprimível, falando. É a mesma coisa, penso que o P. Aimilianos nos falava. E posso dizer, como uma confissão, que ele nos conquistou, e me conquistou a mim também. Sim, durante tantos anos uma tal cruz! E eu vinha em pensamento até à porta dele, fazia uma inclinação profunda e recebia uma força.

Agora aqueles que não entendiam a razão do seu silêncio, podem entendê-la hoje, nesta comunidade, escutando os cantos tão vivos nesta igreja magnífica, no seio desta comunidade.

O P. Aimilianos vai-se, mas a graça de Deus fica e penso que ele deixa atrás de si este grande acontecimento: assistimos hoje à abolição da morte, e não dizemos isto somente a algumas pessoas que falam a mesma linguagem, dizemo-lo a todos os homens. A Igreja fala pelo seu silêncio a todos os que injuriam o Cristo e a Mãe de Deus. São pessoas que precisam de ajuda. Este acontecimento que estamos vivendo hoje, mostra-nos que o que mais precisamos é de um P. Aimilianos, que repousa em Cristo, que nos fala pelo seu silêncio, que parte, mas deixa esta comunidade viva. E o que vai fazer esta comunidade viva? Vai viver e continuar esta tradição. Continuando neste caminho podemos nos perguntar: ”Mas não faço nada?” É precisamente no não fazer nada que está o Cristo que oferece e é oferecido, que recebe e é distribuído”.

Demos graças ao Cristo, à Mãe de Deus e a todos os Santos, pois Ele nos deu um P. Aimilianos, porque ele nos falou com sua vida, com suas ações e com seu silêncio. E peçamos ao Cristo e à Mãe de Deus que o P. Aimilianos reze lá onde ele está agora, na companhia de todos os anjos. E nós, exercitemo-nos na paciência, esperando chegar aos bens do reino dos céus, que Deus preparou para nós, para todos os homens.