Testemunho sobre o curso
de formação de língua francesa “Ananias”
Irmão Moïse Ilboudo, OSB
Koubri - Burkina Faso
Estou muito contente de ter podido participar do encontro "Ananias" durante três meses com um programa bem definido. Não pudemos esgotá-lo com os moderadores. Essa idas de mosteiro em mosteiro representam, para mim, a caminhada dos Reis Magos (cf. Mt 2,1-2), seguindo a estrela que os guiava e a Virgem Maria percorrendo as montanhas para visitar sua prima Isabel.
O encontro reforçou na minha escolha: a vida monástica nas suas profundezas de graça e seus benefícios. Fiz a experiência que formar noviços para a vida monástica começa por me deixar transformar; e que dar, exige que se saiba receber, como nos diz o livrinho “Pequena reflexão sobre Ananias”. Ananias discípulo de Cristo, o iniciador de Paulo à vida em Cristo, deve ser um modelo, um ícone seja qual for o meu cargo. Como nossa religião cristã é uma transmissão, uma fé viva que se realiza na Palavra celebrada e rezada, as três primeiras semanas da estadia no mosteiro Pierre-qui-Vire fizeram-nos mergulhar no mistério de Cristo: Paixão-Morte-Ressurreição! Esses ensinamentos nos conduziram até ao final do encontro.
Em suas intervenções o Pastor Pierre-Yves Brandt acendeu uma pequena chama em mim, que tentei proteger até ao final, para que possa crescer como uma semente colocada na terra. Ela deve brotar e dar fruto no tempo, na minha vida monástica de cada dia, para que os outros possam comer dos seus frutos. Como não há rosa sem espinhos, a vida monástica é plena de beleza, formada por um conjunto de indivíduos, onde cada um tem seu caráter próprio, que tem de lidar na frente dos outros: é a vida fraterna! Pierre-Yves me ensinou, graças a exercícios práticos, a encontrar uma solução diante de tal ou tal situação. Como fazer para administrar isso? Ler e reler minha vida, voltar a mim, ser pontual para melhor transmitir o que recebi. Referir-me sempre à Sagrada Escritura, à Regra de São Bento, às Constituições, ao Costumeiro, tudo ferramentas práticas. Tenho de levar em conta a situação atual em que me encontro. Devo ser responsável por mim, em tal ou tal situação, e colocar-me no lugar do outro para melhor agir e não para me defender. Há sempre mil soluções, mil maneiras de gerir uma situação e de saber escutar o Espírito Santo.
É na lectio divina que o monge escuta o Espírito Santo, a Palavra de Deus. A lectio divina é o lugar de aprendizagem da leitura das Sagradas Escrituras, para melhor escutar uma palavra que vai permitir-me ler, reler minha vida e decifrá-la. A tradição é um tesouro de onde se tira coisas novas e velhas, é uma dinâmina de vida que nos leva ao encontro com Deus. O P. Armand Veilleux nos dizia que transmitir a tradição é transmitir a experiência da vida monástica. A formação é um processo.
Fomos formados à imagem de Cristo, deformados pelo pecado e reformados pela graça de Cristo. O papel do formador é a integração e a formação: ajudar a pessoa, que vem ao mosteiro, a se transformar, a se integrar da comunidade, que a acolhe.